quinta-feira, 23 de abril de 2009

A lei da oferta e da procura

- Meeeengo...! Meeeengo....! Meeeengo...! Não te falei, não te falei? No primeiro turno o teu Foguinho tava cheio de marra, se achava uma tsunami. Agora no segundo turno a gente viu que não passava de uma marolinha. Tudo fogo de palha.
- Mercado, meu caro! Tudo não passa de Mercado.
- Que que cê ta falando cara? Tô aqui te zuando porque teu timeco perdeu pro meu mengão de um a zero e você vem com esse papo de mercado. Economia numa hora dessas? Tenha a santa paciência!
- O que eu tô te falando é que tudo está submetido às leis do mercado. É fato, meu nobre! Tudo é mercado. Não existe mais verdade ou mentira, certo ou errado, direita ou esquerda, entendeu? É tudo mercado, a lei da oferta e da procura.
- Cara, você já ta me assustando. Tudo bem que eu te ache meio esquisitão, meio nerd, mas agora vendo você com esses gráficos aí e me olhando desse jeito me deixou assustado.
- Então senta aí que eu te explico tudo. A propósito: quanto você pagou por essa bandeira?
- Cem reais, mas nem vem me dizer que é por causa desse tal de mercado.
- É claro que é! Somos sempre escravos do mercado.
- Então conta logo que eu já tô ficando nervoso.
- Conta-se que logo após a morte de John F. Kennedy, em 1963, um grupo de cientistas econômicos dos Estados Unidos tinha elaborado um estudo sobre o comportamento das pessoas em relação ao consumo. Nesse estudo, que tinha duzentas e cinqüenta páginas, os cientistas descobriram que existiam dois tipos de pessoas: as que tinham compulsão em acreditar em qualquer coisa e as que tinham compulsão em mentir o tempo todo. Foi a partir daí que as leis da oferta e da procura passaram por uma revolução sem precedentes na história das civilizações.
- Caramba, mermão! Chega a dar arrepios. Continua, continua...!
- Pois bem, o que eles não contavam é que o tal estudo pudesse cair em mãos erradas, em mãos mal- intencionadas.
- Já sei: caiu nas mãos de espiões russos?
- Não, seu idiota: caiu nas mãos de um daqueles que mentiam compulsivamente. Então esse cara, que não era bobo, vendeu o estudo, e bem caro, para um grande fabricante de sabonetes, lá mesmo dos Estados Unidos. O empresário, que também não era bobo, depois de ler o estudo várias vezes, resolveu fazer um teste: espalhou vários outdoors onde aparecia uma mulher antes de ter usado o sabonete e depois de tê-lo usado. A diferença era brutal: na primeira foto a mulher parecia uma simples dona-de-casa de classe média americana, mas a segunda parecia uma estrela de Hollywood e em cima, escrito em letras garrafais: A CADA BANHO UMA NOVA MULHER. E logo abaixo das fotos ele escreveu: Lady Lux: O sabonete das estrelas.
- Matou a pau! E aí, e aí...?
- No dia seguinte haviam filas kilométricas nos principais supermercados da cidade. Tinha mulher que tomava dez banhos por dia, na esperança de ficar parecida com a mulher do outdoor. Os maridos estavam ficando carecas de tanto arrancarem cabelos. Estava criado o que hoje chamamos de marketing. Hoje o marketing é praticado no mundo inteiro.
- O cara era um gênio, um gênio! Mas voltando ao assunto, o que tem haver essa história de mercado com o jogo de ontem?
- Elementar meu caro Watson.
- Watson é o cacete. Meu nome é Uoston, U-os-ton. Pô!
- Tá legal, meu caro U-os-ton! Como eu dizia, tudo é mercado: sabonete, carro, política, religião, futebol, tudo. Vou te fazer uma pergunta: porque o Flamengo ganhou e o Botafogo perdeu?
- Mas que pergunta mais escrota! É claro que o Flamengo jogou melhor que o Botafogo e ganhou a partida.

- Mas se o Flamengo perdesse o jogo, o que aconteceria?
- Ora, o Botafogo seria campeão do segundo turno e aí não precisaria ter mais dois jogos prá saber quem ficaria com o campeonato.
- É aí que entra o mercado.
- Agora só falta dizer que o seu Foguinho abriu as pernas pro meu time ganhar. Só me faltava essa!
- Não é bem assim, meu caro! Isso se chama solução de mercado. Veja só: você está feliz por ter ganhado essa partida, certo? O Botafogo, mesmo perdendo, ainda tem a chance de ganhar o campeonato, assim como o Flamengo, certo? E quem ganha com isso? Todo mundo: o cara que te vendeu a bandeira a cem reais, O garçom aqui do bar, a costureira que confeccionou a bandeira, os veículos de comunicação, os flanelinhas, o Metrô, o Botafogo e o Flamengo. Todo mundo ganha. Duvido que o Lula também não tenha torcido por esse resultado. Já pensou se fosse assim em todos os estados? Quanta grana não estaria girando na economia? Quantos empregos? Já pensou nisso?
- Bom, olhando por esse lado até que faz sentido. Mas e esse negócio de mercado na política, como é que funciona?
- Então presta atenção: lembra da década de noventa, Plano Cruzado, Plano Verão, inflação galopante, corrupção comendo a torto e a direito, lembra?
- Claro que lembro! A inflação era mais de dois por cento ao dia. E eu odiava aquela maquininha que remarcava preços.
- E qual foi a solução do mercado, hein? O mercado procurava um presidente novo, que acabasse com a inflação, com a corrupção, com os marajás do Congresso. Mas tinha que ser tudo numa tacada só, um tiro certeiro. E não podia ser ninguém conhecido. Tinha que ser um sujeito novo, com olhar firme, que desse porrada na mesa na hora de falar. E o que aconteceu foi que acharam o tal sujeito perfeitamente encaixado no perfil que o mercado exigia. Só que, às vezes, o mercado rejeita soluções incompletas. O mercado é muito sensível nesse aspecto.
- Caramba, como eu pude ser tão otário esse tempo todo? ... Meu Deus! Por falar nisso, como é que funciona o mercado na religião?
- Funciona assim: todo mundo tem uma religião, ou diz que tem, não importa. E todos os que têm religião sempre vão a sua igreja pedir graças diversas. Saúde, paz, cura prá uma doença aqui, um empreguinho no funcionalismo ali, mas sempre pedem, também, um pouco de sorte prá ganharem na loteria, prá a aposentadoria sair mais cedo, enfim, é como que cercar pelos doze, como se diz no jogo do bicho. Foi aí que o mercado entendeu o recado e criou os “executivos da fé”. Eles colocavam outdoors com famílias bem vestidas, felizes e aparentando terem as contas pagas e, junto a isso, muita panfletagem e propaganda boca a boca. Não demorou muito para que as igrejas ficassem todas lotadas e com uma pequena taxa dizimal, até inferior à taxa selic, vale dizer, os fiéis alcançariam suas graças, depois de ralarem muito e se enforcarem no cheque especial. Vale ressaltar que esse mercado, vez por outra, trabalha com cheque pré-datado, mas a graça só é concedida após a compensação do cheque. É hoje, sem dúvida, o mercado mais promissor do mundo, atuando também na área do entretenimento e das artes e estão sempre buscando novos nichos de mercado, além é claro, do e-commerce.
- Cara, não é mole não! O chope já nem tá descendo direito.
- E tem mais: nos Estados Unidos tem mercado até prá quem dá calote em dívidas. E são disputados a tapas, quer dizer, eram disputados a tapas. Agora o bicho tá pegando, mas sobre isso eu te explico depois do jogo de domingo.
- Benhê, vambora! Tô com soninho.
- Vai indo, benzinho! Só vou trocar mais uma palavrinha com o Botafoguense aqui.
- Me engana que eu gosto!
- Tua mulher sintetizou tudo numa só frase: “Me engana que eu gosto”. Essa frase, que sintetiza a lei do mercado, na verdade foi dita, pela primeira vez, por aquele americano que ficou milionário vendendo sabonetes: “Deceive me because I like”! Me engana que eu gosto! ...Gênio!
- Agora fala aqui, ao pé do ouvido prá ela não ouvir: Como é mesmo o nome do tal sabonete?
- Canalha...!

Um comentário:

Irinéa MRibeiro disse...

Ora, ora....
Vim parar aqui na maior integração e dou de cara com um texto seu falando do meu BOTAFOGO??? ahahahahaha
ps- quase me mandei, mas vc sabe que eu sou fã do Abel, fiquei.
Também sou seguinte
beijos